quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Algumas considerações de Laurent

Zaeth Aguiar do Nascimento – Correspondente da Delegação Paraíba da EBP

Laurent aponta-nos as características da subjetividade contemporânea e nesta “percebe-se claramente que o declínio do ideal se acompanha das exigências do gozo”. Permeando a subjetividade contemporânea apresentam-se o hedonismo de massa e o fetichismo da mercadoria generalizada.

Neste sentido, constatamos que o hedonismo de massa que caracteriza o momento atual da civilização é responsável pelo desaparecimento da particularidade do sintoma. A visão hedonista do mundo remete ao acesso ao gozo “para todos”. Laurent acrescenta os dois tipos de relação com o gozo: querer mais gozo e querer a particularidade do sintoma e indica-nos um outro aspecto da experiência de gozo que se diferencia da overdose, que é a experiência do todo e que seria a alloverdose implicando um gozo ilimitado, o todo. Se contrapondo a esta versão do gozo, “respondem os pequenos furos particulares de cada sujeito liberado da tirania de gozar de “tudo” (p. 173)”. Miller (Curso de Orientação Lacaniana, curso 20; ano 2003-2004 – inédito) indica-nos a que ponto a tirania do objeto a na atual civilização é uma tirania que não tem mais laço com a singularidade de cada sujeito, por isto se chama de tirania.

Diante deste quadro da civilização, voltamos a nos questionar qual a ação do analista? Laurent indica-nos que o analista “não pode pretender aliviar o sujeito contemporâneo de sua culpa em relação ao ideal”, pois o sujeito contemporâneo já está aliviado (ele é um sujeito light) e que “o importante não é o aparente alívio do sujeito, mas o peso de sua relação com o gozo” (p. 171). Neste sentido, cabe ao analista, no que diz respeito ao gozo, “reenviar o sujeito à sua particularidade” (p. 172) que diz respeito ao sintoma. O programa de ação do analista na civilização atual é fazer acreditar no sintoma que remete ao singular.

Outra ação do analista na civilização do lugar da psicanálise hoje, diz respeito ao que Laurent denomina de “analista-cidadão”. Desta forma, resta ao analista praticar a psicanálise na cidade, sair da posição de analista intelectual, “Há que se passar do analista reservado, (..) a um analista que participa, (...) sensível às formas de segregação, a um analista capaz de entender qual foi sua função e qual lhe corresponde agora” (Laurent, 2007, p. 143).