quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Órfãos do explicável Aprendemos que tudo tem razão de ser - e aí vem a tragédia do menino de 10 anos que se matou Luto e perplexidade

O jornal O Estado de São Paulo solicitou uma análise, por Jorge Forbes, sobre o caso do menino de São Caetano. Saiu publicada, neste domingo, no caderno Aliás. Material retirado do:  http://bit.ly/nnkGDx


JORGE FORBES É PSICANALISTA, PSIQUIATRA. PRESIDE O INSTITUTO DA PSICANÁLISE , LACANIANA - IPLA, DIRIGE A CLÍNICA DE , PSICANÁLISE DO CENTRO DO GENOMA HUMANO, DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - O Estado de S.Paulo


Escrevo o que ninguém quer ler nem ouvir falar: não existe nenhuma fórmula, nenhum procedimento ou protocolo que tenha capacidade de prever uma atrocidade como a de um menino de 10 anos roubar o revólver do pai; esconder a arma, quando perguntado pelo próprio pai; atirar na sua professora; e em seguida se matar.
É esperado que sejamos nestes próximos dias bombardeados com detalhes da vida desse menino: suas leituras, amizades, humores, ascendência familiar, credos, hábitos, notas escolares, desenhos, bilhetes eletrônicos, tiques, sexualidade, estranhezas. Tudo é bom, tudo serve, para a tentativa desesperada de estabelecer um nexo causal. Somos filhos do Iluminismo. Aprendemos desde pequenos que tudo tem uma razão de ser e, se não compreendemos, a falha não está no saber - pois o saber é sem falha -, mas no raciocínio imperfeito.
A sociedade ainda não suporta constatar que a pós-modernidade nos fez órfãos do Iluminismo porque isso é desesperador. E agora que a festa do "tudo é explicável" acabou? Como suportar não saber se aquele garoto um pouco arredio não é o próximo assassino de si mesmo ou de alguém? Se insistirmos em causalidades forçadas, vamos criar uma sociedade irrespirável. Afinal, qual de nós não tem a sua esquisitice? Já se fala que a professora teria notado um comportamento diferente no menino e não lhe teriam dado atenção. Já se fala que o pai deveria ter prevenido a direção da escola sobre o desaparecimento da arma. Como é fácil ser profeta do passado! Duro é constatar que estamos em uma época na qual esses crimes inusitados são um dos tipos de manifestação.
Há poucos dias, a presidente, em nosso nome, disse na abertura da Assembleia-Geral da ONU: "O desafio colocado pela crise é substituir teorias defasadas, de um mundo velho, por novas formulações para um mundo novo". Está correto e é válido para além da crise econômica: vivemos nos amparando nas teorias defasadas de um mundo velho, sim. Quem duvida que uma das interpretações que mais vai se fazer é a de que o menino se identificou com o pai policial? Ou que, ao contrário, para provocar o pai, teve um comportamento de bandido? Ou, pior, que por ódio ao pai se matou com seu instrumento?
Estamos desbussolados. Os sintomas de nossa inaptidão para viver neste novo mundo estão sendo tragicamente anunciados. Ontem, foi o moço da Noruega; hoje, o garoto brasileiro. Tão distantes e tão perto. Quando tudo parecia tão bem, tão perfeito: bom filho, boas notas, ia à igreja e até tocava bateria... ocorre o acidente, o fato inusitado, que nos deixa pasmados, ignorantes de nossa condição humana.
Urge, assembleia-geral de uma nova época, urge que abandonemos nosso conforto iluminista do tudo tem sua razão: essa luz ficou fraca, está nos deixando na sombra e liberando monstruosidades. A psicanálise tem novas contribuições para o momento atual. Não se trata mais do Freud explica, mas do Freud implica. O Freud explica é do tempo da revelação do saber escondido, fora da consciência, no inconsciente. O Freud implica é de agora, da constatação de que, de uma sociedade da razão, fomos a um novo tipo de laço social: o ressoar, "tá ligado?". Essa é a pergunta dessa geração que está aí, a geração mutante. Seus membros não perguntam se o que ele disse você entendeu, mas se lhe tocou, se você pode fazer alguma coisa com o que ele falou, não a mesma coisa feita por ele, mas algo marcado, atravessado por sua singularidade, necessariamente diferente da dele, daí o "tá ligado?".
O que se teme é que então estaríamos caminhando para uma esbórnia geral de comportamentos individualistas. Falsa conclusão de nossas mentes viciadas na segurança da razão padronizada. A sociedade do ressoar exige um duplo movimento de cada um: invenção e responsabilidade. Invenção, pois quando falta o caminho pré-estabelecido há que se inventar um. E responsabilidade, pois se deve inscrever no mundo a sua invenção, motivo pelo qual o medo do individualismo não se sustenta.
Para isso, uma guinada de 180 graus nos é exigida. A educação, sem dúvida, é um dos principais setores dessa mudança que já tarda. Em vez de medicalizar o aluno supostamente inadequado à escola, como tem sido feito nos últimos anos, amparados abusivamente no diagnóstico de transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), melhor questionar a escola; não essa ou aquela, mas a instituição escolar, se ela está preparada para uma sociedade viral, das redes horizontais, da criatividade responsável. Na medida em que pudermos habitar esse novo mundo com uma nova bússola, na medida em que ampliarmos a legitimação das singularidades, seremos menos surpreendidos. Estamos atrasados.

domingo, 18 de setembro de 2011

Aberta as inscrições do módulo SOBRE A PERVERSÃO do curso: A Estrutura em Psicanálise: Édipo, complexo que nenhuma criança escapa

Concluindo a atividade de curso do CEPP em 2011, abrimos as inscrições para o módulo Sobre a Perversão, com a psicanalista Lenita Bentes, Membro da Escola Brasileira de Psicanálise-EBP e Membro da Associação Mundial de Psicanálise-AMP. As vagas são limitadas. Segue abaixo maiores informações.

20 e 21/05: Histeria e Feminilidade (Sonia Vicente / EBP-BA)
08 e 09/07: A predisposição à Neurose Obsessiva (Tania Abreu / EBP-BA)
12 e 13/08: Não recuar frente à psicose (Glacy Gorski / EBP-PB)
28 e 29/10: Sobre a Perversão (Lenita Bentes / EBP-RJ)

Local: Av. Dom Severino, 1024 / Edf. Afrânio Nunes, sala 06 - Fátima

Valores por Módulo
Membros e Aderentes R$: 70,00
Estudante da Graduação R$: 100,00
Profissional R$: 150,00

FORMAS DE PAGAMENTOS: depósito bancário direto no caixa
Banco do Brasil
Agência: 4708-2
Conta Corrente: 7.671-6
Em nome de: Maria Lídia M. Noronha Pessoa

ATENÇÃO:
Enviar ficha de inscrição junto com fotocópia do comprovante de depósito para o e-mail: cepp.teresina@gmail.com

Nos casos em que seja necessária comprovação formal dos alunos de graduação, a inscrição só será confirmada após o envio da comprovação da graduação junto com a ficha de inscrição;

Serão aceitas somente inscrições com depósito bancário direto no caixa e concluída com o envio para o e-mail do CEPP, constando ficha de inscrição e comprovante de pagamento.

Vagas Limitadas

FICHA DE INSCRIÇÃO:

CURSO: A Estrutura em Psicanálise: Édipo, complexo que nenhuma criança escapa
Nome completo: _____________________________________

Endereço:__________________________________________

CEP: _______________Cidade: _______________UF_____

Telefones:_______________celular:__________________

E-mail:___________________________________________

Profissão:_______________________________________

Categoria:
( ) Membros e Aderentes
( ) Aluno de Graduação
( ) Profissional

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Comunicado de Jacques-Alain Miller, Pela liberação de Rafah NACHED


A Associação Mundial de Psicanálise convida a todos os seus membros e àqueles que receberem este Comunicado, a aderir à Petição pela imediata liberação da psicanalista Rafah NACHED.
 
Como é sabido, Rafah NACHED exerce a psicanálie na Síria, após haver-se diplomado em psicologia clínica em uma Universidade de Paris. Ela foi presa no sábado, 10 de setembro, no aeroporto de Damasco, no preciso momento de embarcar para Paris, onde sua filha está para dar a luz. Até o momento, os serviços de informação têm se negado a dar notícias sobre sua situação.

Os psicanalistas argentinos, que em particular, sabem da nefasta história do desaparecimento forçado de pessoas, não poderiam ficar em silêncio, diante de um fato desta magnitude.

As adesões à petição (que abaixo reproduzimos) devem ser dirigidas a: rafah.navarin@gmail.com <mailto:rafah.navarin@gmail.com>

Também reproduzimos a seguir, o Comunicado de Jacques-Alain Miller do dia de hoje às 15:37h de Paris.

Solicito aos Presidentes das Escolas da AMP que traduzam rapidamente para que os membros, nas cinco línguas, possam calibrar suas palavras sobre o alcance do que está em jogo neste contexto.
Buenos Aires, 13 de setembro de 2011 (12h 30)
Leonardo Gorostiza
Presidente de la AMP

Comunicado urgente de Jacques-Alain Miller
Paris , 13 de setembro de 2011, 15:37h.

O  poder sírio, encurralado,  tem se lançado em uma repressão sem piedade.

Alguns de nossos amigos que têm velhos contatos com o governo sírio estão atuando nos bastidores para obter a liberdade de RAFAH, que parece estar sob os pés dos serviços mais duros.
 Por outro lado, trata-se de fazer muito barulho  para intimidar, se for possível, os assassinos revestidos da autoridade do Estado sírio, ou do que fica deste. 

Faço uma chamada às 7 irmãs, às 7 Escolas do Campo Freudiano no mundo e a seus membros um a um, para:
1) Assinar a chamada "Liberdade para RAFAH!, Mobilização por RAFAH!" , isto é o mínimo;
2) Contatar em cada país, com jornalistas, intelectuais, artistas, escritores, personalidades, com o fim de maximizar a função "BARULHO"
3) E, à continuação, se RAFAH continua estando em um lugar desconhecido: concentrações – pacíficas, certamente.
O que está em jogo é de suma importância.

a) As "revoluções" do início do ano convenceram a opinião mundial de que a democracia liberal é uma aspiração dos povos árabes, curvados há muito tempo ao jugo dos ditadores, com a cumplicidade dos "Ocidentados", aliados a esses compradores que traem sem vergonha, o interesse verdadeiro, tanto das classes populares, quanto o da burguesia nacional. 

b) Desejo de consumir, liberdade de palavra e de associação, direito ao gozo, sim, em todos os lugares os povos querem, eles também, saborear os prazeres venenosos do Um contável, do Um-só, do qual zomba o Tio SAM. Pouco importa que um pássaro de mau presságio (Lacan Jacques, para não nomeá-lo, o bem conhecido kojevo-heideggeriano) possa pensar que  isso não será a panaceia e que o "Paraíso"  (Sollers), certamente não está ao final desses fantasmas. Os povos querem isso e a bússola do tempo lógico indica que devem passar hoje pelo momento liberal-consumidor da história do mundo, quer dizer, pela produção intensiva  "da falta de gozo"- para ir, um dia , mais além: até à santidade, propunha Lacan. 

c) A psicanálise, a prática da associação livre, faz parte integrante deste momento, da mesma maneira que o Ipad, o i-phone, Facebook, Google, as Go Go Girls, Lady Gaga, The Huffington Post, The Daily Show with Jon Stewart, and the whole megillah.

 d) RAFAH na prisão, RAFAH raptada, RAFAH apagada, é a tentativa do minus, do Liliputiense, para amarrar o Gulliver do discurso universal. Uma figura do Espíritu que está terminando de envelhecer. Ajudemos à serpente da sabedoria a desembaraçar-se de sua velha pele!

A psicanálise no século XXI converteu-se em uma questão social.
Esta mobiliza por todos os lados, a atenção dos legisladores, sonhando em "Preencher os vazios jurídicos! Com efeito, este é seu Job, sua carga. Mas, a nossa não é essa. A nossa é a de fazer-nos os auxiliares do tempo lógico, ativando por todos os lados, o poder das lacunas, dando jogo aos semblantes, insinuando a liberdade de associação, a associação livre.

A psicanálise se converteu em uma questão social? Indefectivelmente, nos acossan os sociômanos (Sollers)? Muito bem! Ser atacado pelo inimigo é uma coisa  boa, não má, dizia um sábio chinês. É o momento, é o lógico, de que por todo lado, a psicanálise se converta agora em uma força material, uma força política 

Isto é o que está verdadeiramente em jogo no assunto RAFAH. 

Mobilização a favor de  RAFAH !
¡Liberdade a  RAFAH !
Enviar um e-mail para:  rafah.navarin@gmail.com