quarta-feira, 23 de outubro de 2013

sábado, 28 de setembro de 2013

AVISO SOBRE INSCRIÇÃO DA CONFERÊNCIA DO AMOR

Em virtude da greve dos bancos, aqueles que queiram se  inscrever na conferência Amor e seus Enlaces na Mulher Contemporânea, poderão realizar as inscrições nos dias: 02.10 - 19h às 20h:30min; ou 03/10 - 8h às 10h, na sede do CEPP.
Valor R$ 35,00
11 vagas


segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Conferência: Amor e seus Enlaces na Mulher Contemporânea

Conferência: Amor e seus Enlaces na Mulher Contemporânea
Ministrado por: Carlange de Castro
Data: 05/10/2013
Horário: 8h20min às 11:20min
Local: Av. Dom Severino, 1024-Sala 06
Valor: R$ 35,00
Inscrição: cepp.teresina@gmail.com

Obs: Enviar para o endereço acima comprovante de pagamento e Nome completo. A inscrição só será efetuada com a confirmação do pagamento. O evento fornecerá aos participantes um comprovante de participação.
30 vagas

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Considerações sobre o curso Histeria e Feminilidade



Durante final de semana o CEPP recebeu a psicanalista Glacy Gorski, Membro da Associação Mundial de Psicanálise – AMP; Membro da Escola Brasileira de Psicanálise – Delegação PB e atual diretora financeira da EBP, que transmitiu sobre Histeria e Feminilidade. Glacy inicia questionando a histeria, seu estatuto na contemporaneidade e se a mudança da ordem familiar gera uma mudança nas estruturas clínicas? Articula a histeria como uma das estruturas clínicas da psicanálise,  diferenciando-a da feminilidade. Em Freud, a histeria já é pensada também em homens, o que nos leva a pensar sobre o feminino a partir de uma posição subjetiva do sujeito.

Segue nos relatando sobre o declínio do pai na atualidade e uma prevalência do empuxo ao gozo. Apresenta a histeria desassociada da feminilidade, ressaltando a histeria como uma negação da feminilidade. Segundo Glacy, o feminino está articulado há algo não representado, aquilo que não cessa de se inscrever, sendo o gozo feminino absoluto, ao qual a mulher é a única a ser ultrapassada pelo seu próprio gozo. No contexto da parceria homem e mulher, ambos não se encontram, pois estão em registros diferentes.

Glacy faz colocações bem definidas sobre as posições femininas e posições masculinas que ultrapassam a anatomia humana. Essas posições se ordenam a partir do registro fálico, marcando a natureza da libido sempre como ativa. Isso leva à mulher a possibilidade de uma posição fálica ou feminina em sua subjetividade. Chegar à posição feminina é um confronto com a castração que possibilita o encontro com o amoroso.
Carlange de Castro




domingo, 25 de agosto de 2013

Papo de garotas

De Quentin Tarantino e do fetichismo hipermoderno

Gérard Wajcman (AMP/ECF)
Heroínas, novas perversas
Tarantino, em lacaniano rigoroso, desdobra seus filmes exatamente entre os dois pólos que, para Lacan, sustentam o fio do gozo: “Isso começa com as cócegas e termina com a labareda de gasolina” 1. E isso ao ponto de que se poderia acreditar que Lacan falava aí dos filmes de Tarantino. Para compreender, é necessário pensar como Kill Bill. Este filme poderia ter como subtítulo: poder às garotas! É o que finalmente diz seu título – levando a pensar que todos os rapazes chamam-se Bill. É preciso dar todo o seu valor ao fato de que Tarantino escolheu David Carradine para o papel, herói nos anos 70 da célebre série televisiva Kung-Fu. Uma Thurman o mata graças a uma técnica secreta que faz explodir seu coração. Ela é mais
forte do que ele. É o herói dos anos 70 abatido pela garota dos anos 2000. Esse filme anuncia que as garotas são as novas heroínas. E essas heroínas são as novas perversas. Tarantino é evidentemente um perverso polimorfo. Ele ama os pés das garotas. Assim que começam os créditos de abertura de Death Proof, vemos os pés nus das garotas plenamente enquadrados, pousados na praia na frente do carro. Percebemos claramente que é para dar prazer aos garotos. A massagem dos pés não é necessariamente o truque das garotas. Elas praticam a massagem da fala. Mas o que faz de Tarantino um cineasta importante, é que, como Hitchcock, é um perverso que não se ignora, que sabe exatamente onde está o seu desejo. Ele filma garotas que lhe dão prazer como ele quer, mas à diferença de Hitchcock, tem na cabeça a seguinte
questão: o que faz as garotas gozarem?
O que as “fissura”? A Talk Massage, seguramente. Os rapazes sem dúvida, mas também os carros. O fetichismo dos carros é, normalmente, um truque dos caras. Vejamos que as garotas se apropriam das perversões dos caras. É o que Death Proof relata. Sabemos que o fetichismo feminino é raro. Como o fetichismo repousa na denegação da castração materna, esse diagnóstico é frequentemente reservado para os homens, pois, como diz Freud, as garotas estão bem situadas para saberem o que elas não têm.
Ao mesmo tempo, rapazes e garotas, estamos todos submersos num fetichismo generalizado e industrializado. Freud explicava como os objetos circulam por metonímia, como substitutos ao falo materno – substituindo um objeto que não existe por outro objeto. Hoje em dia é legítimo se perguntar: a própria ideia de uma clínica do fetichismo ainda faz sentido num mundo submergido pelos objetos? All the world’s a market, and all the man and women merely consumers. Condenados ao consumo, o fetichismo tende a tornar-se a norma social.

A encarnação do Zeitgeist feminino
O cinema é mais atento ao cingir essa novidade clínica do objeto do lado das mulheres. Sempre teve essa capacidade notável de descrever as mulheres capazes de figurar modelos, de construir paradigmas. É a única arte na qual as mulheres podem surgir encarnando o que eu nomearia de Zeitgeist feminino, o espírito da mulher do tempo. Nos anos sessenta, quando se sai do pós-guerra, é evidentemente Brigitte Bardot que encarna a mulher em voga; quer dizer a mulher dos tempos por vir. Brigitte Bardot é a mulher que anuncia a era dos objetos e do gozo liberado. E também uma nova liberdade para as mulheres. Essa nova mulher nasceu em 1956, em E Deus criou a mulher de Vadim. Ela está mesmo à frente do novo cinema.
O novo cinema e a nova mulher vão se juntar em 63, em Mépris de Godard. Camille é a nova mulher. Não somente uma nova imagem, de uma mulher bela e livre, mas uma mulher inédita: uma mulher que menospreza
um homem. Existia o formidável romance de Moravia, mas a literatura não poderia bastar para criar esta figura, era preciso um corpo real, era preciso Bardot. O espírito do tempo é um corpo. E Bardot teria sido esse novo corpo, esse espírito de corpo. Uma nova mulher é uma mulher que mostra uma nova maneira de gozar. A questão se coloca hoje em dia assim: onde está a Miss Zeitgeist 2012?
Cada uma das Miss Zeitgeist é a encarnação em um momento dado da pergunta feita por Freud: O que
quer uma mulher? Sabemos que essa foi, para ele, “a grande questão”. Isso nos leva a pensar que era uma
questão para sempre sem resposta. É isso que haveria de eterno nas mulheres, questão que elas não cessariam de colocar aos homens. A potência dessas mulheres, sintomas-do-tempo no cinema, é encarnar essa pergunta em uma época. Enigma colocado aos homens, que implica certa ameaça, já que a questão de saber o que quer uma mulher está enodada àquela de saber o que ela quer de nós. É a questão de Godard em Le Mépris. O que ela quer de nós nos anos 2000?
Kill Bill é a história de uma garota vestida de couro que roda de moto e maneja o sabre. Eis a figura da nova
mulher. Tarantino mostra uma mulher que se apropriou da arma dos homens. A arma dele é Uma Thurman,
encarnação da nova mulher do século XXI. Diante dessa arma hipermoderna, todos os homens chamam-se
Bill. Não os idiotas: os homens desarmados. Uma nova figura do homem se esboça: um homem a serviço do
gozo das mulheres. Em Kill Bill, Beatrix ainda espera alguma coisa; em Death Proof, as garotas não esperam
mais nada, elas dizem sim ou não, vem ou cai fora. São elas que comandam. Tudo o que uma garota espera
de um rapaz é precisamente o que Butterfly diz a Dov: “Você tem dois trabalhos: beijar-me bem e manter
meus cabelos secos”. O homem não é mais o portador de sabre, é um portador de guarda-chuva.
1 Lacan, Jaques. O Seminário, livro 17: o avesso da psicanálise (1969-1970). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1992, p. 68.

Tradução: Marcela Antelo (AMP/EBP)
Revisão: Elisa Monteiro (AMP/EBP)

domingo, 18 de agosto de 2013

Diário do Povo (01/08/2013)


A visita de Marcelo Veras, psicanalista e Diretor da EBP, à Teresina e ao CEPP foi destaque nos jornais do Piauí. É a psicanálise se movimentando em nosso Estado.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

INSCRIÇÕES ABERTAS



PALESTRA: AS MULHERES E SUAS ESCOLHAS, FORMAS DO FEMININO E HISTERIA
DATA: 30.08.2013
HORÁRIO: 19H
LOCAL: Auditório da Facid
Atividade isenta


MINISTRANTE: GLACY GORSKI, Psicanalista, Diretora Tesoureira da EBP, 
Membro da Associação Mundial de Psicanálise - AMP
Membro da Escola Brasileira de Psicanálise - EBP/Delegação PB

CURSO: HISTERIA E FEMINILIDADE
DATA: 31/08/2013
HORÁRIO: 8h às 12h – 15h às 18h
LOCAL: Av. Dom Severino, 1024 –
Edf. Afrânio Nunes – sala 06 – Fátima
Inscrições: cepp-teresina.blogspot.com
Membros e Aderentes: R$150,00
Estudante de Graduação: R$100,00
Profissional: R$120,00
Vagas Limitadas                                                                

FORMAS DE PAGAMENTOS: depósito bancário direto no caixa 

Banco do Brasil
Agência: 4708-2      Conta Corrente: 7.671-6
Em nome de: Maria Lídia M. Noronha Pessoa
ATENÇÃO:
Enviar ficha de inscrição junto com fotocópia do comprovante de depósito para o e-mail: cepp.teresina@gmail.com
Nos casos em que seja necessária comprovação formal dos alunos de graduação, a inscrição só será confirmada após o envio da comprovação da graduação junto com a ficha de inscrição;
Serão aceitas somente inscrições com depósito bancário direto no caixa e concluída com o envio para o e-mail do CEPP, constando ficha de inscrição e comprovante de pagamento.
 FICHA DE INSCRIÇÃO: 
CURSO: HISTERIA E FEMINILIDADE
Nome completo: _____________________________________
Endereço:__________________________________________
CEP: _______________Cidade: _______________UF_____ 
Telefones:_______________celular:__________________ 
E-mail:___________________________________________ 
Profissão:_______________________________________
Categoria:
( ) Membros e Aderentes 
( ) Aluno da Graduação
( ) Profissional


sábado, 27 de julho de 2013

Encontro com Marcelo Veras

O CEPP com seus membros e aderentes reuniu-se hoje à tarde com Marcelo Veras, psicanalista, Diretor da Escola Brasileira de Psicanálise, Membro da Associação Mundial de Psicanálise e Membro da Escola Brasileira de Psicanálise. Durante o encontro, Marcelo discorreu sobre sua experiência institucional como psicanalista. Em sequência falou sobre a formação do analista como uma formação permanente pautada na análise pessoal, estudo teórico e supervisão, sendo essas as bases para uma formação sólida.  Momento oportuno de debate e enriquecimento sobre a psicanálise com a passagem do Marcelo por Teresina.



Marcelo Veras em Teresina

Sábado dia 27/07/2013 às 17h o CEPP contará com a presença de Marcelo Veras, psicanalista da Associação Mundial de Psicanálise -AMP, Membro da Escola Brasileira de Psicanálise - Seção BA e atual Diretor da Escola Brasileira de Psicanálise. Em sua reunião com os membros e aderentes do CEPP, Marcelo falará sobre a formação do analista e a da política da Escola.  

segunda-feira, 10 de junho de 2013

domingo, 26 de maio de 2013

ANGÚSTIA, MEDO E REAL NA CLINICA COM CRIANÇAS


PALESTRA: ANGÚSTIA, MEDO E REAL NA CLINICA COM CRIANÇAS
DATA: 07.06.2013
HORÁRIO: 19H
LOCAL: Auditório Noé Mendes – CCHL / UFPI
Atividade isenta

MINISTRANTE: CRISTINA VIDIGAL, psicanalista, Membro da Associação Mundial de Psicanálise – AMP e Membro da Escola Brasileira de Psicanálise – EBP/seção MG

CURSO: CLÍNICA COM CRIANÇA E ADOLESCENTE
DATA: 08/06/2013
HORÁRIO: 8h às 12h – 15h às 18h
LOCAL: Av. Dom Severino, 1024 –
Edf. Afrânio Nunes – sala 06 – Fátima
Inscrições: cepp-teresina.blogspot.com
Membros e Aderentes: R$150,00
Estudante de Graduação: R$100,00
Profissional: R$120,00
Vagas Limitadas                                                                

FORMAS DE PAGAMENTOS: depósito bancário direto no caixa 

Banco do Brasil
Agência: 4708-2      Conta Corrente: 7.671-6
Em nome de: Maria Lídia M. Noronha Pessoa

ATENÇÃO:
Enviar ficha de inscrição junto com fotocópia do comprovante de depósito para o e-mail: cepp.teresina@gmail.com
Nos casos em que seja necessária comprovação formal dos alunos de graduação, a inscrição só será confirmada após o envio da comprovação da graduação junto com a ficha de inscrição;
Serão aceitas somente inscrições com depósito bancário direto no caixa e concluída com o envio para o e-mail do CEPP, constando ficha de inscrição e comprovante de pagamento.

 FICHA DE INSCRIÇÃO: 
CURSO: CLÍNICA COM CRIANÇA E ADOLESCENTE
Nome completo: _____________________________________
Endereço:__________________________________________
CEP: _______________Cidade: _______________UF_____ 
Telefones:_______________celular:__________________ 
E-mail:___________________________________________ 
Profissão:_______________________________________
Categoria:
( ) Membros e Aderentes 
( ) Aluno da Graduação
( ) Profissional



sábado, 11 de maio de 2013

Jacques Lacan O Seminário 6 O desejo e sua interpretação



O que nos mostra Lacan? Que o desejo não é uma função biológica; que não está articulado a um objeto natural; que seu objeto é fantasístico. Por isso, o desejo é extravagante. Ele é fugidio a quem se propõe a assenhoreá-lo. Ele os engana. Mas também, se não é reconhecido, fabrica o sintoma. Em uma análise, trata-se de interpretar, quer dizer ler no sintoma a mensagem de desejo que ele contém.
Se o desejo desbarata, em contrapartida, ele suscita a invenção de artifícios que fazem o papel de bússola. Uma espécie animal tem sua bússola natural, que é única. Na espécie humana, as bússolas são múltiplas, são montagens significantes, discursos. Dizem o que é preciso fazer: como pensar, como gozar, como se reproduzir. Porém a fantasia de cada um permanece irredutível aos ideais coletivos.
Até uma época recente, nossas bússolas, diversas como são entre si, indicavam um mesmo norte: o Pai. Acreditava-se em um patriarcado antropológico e invariante. Seu declínio foi acelerado com a igualdade de condições, a ascensão do poder do capitalismo, o domínio da tecnologia.
Estamos na fase de saída da era do Pai.
Outro discurso está em vias de suplantar o anterior. A inovação no lugar da tradição. Mais do que a hierarquia, a rede. O atrativo do advir substitui o peso do passado. O feminino sobrepõe o viril. Ali onde tínhamos uma ordem imutável, os fluxos transformacionais franqueiam incessantemente os limites.
Freud é da era do Pai. Ele trabalhou muito para salvá-lo. A Igreja acabou se dando conta. Lacan seguiu a via aberta por Freud, mas ela o levou a formalizar que o Pai é um sintoma. Ele o mostra aqui a partir do exemplo de Hamlet.
O que se guardou de Lacan – a formalização do Édipo, o foco colocado no Nome-do-Pai – foi somente seu ponto de partida. O Seminário 6 já o reformula: o Édipo não é mais a única solução do desejo, é apenas sua forma padronizada; esta aqui é patogênica, não esgota o destino do desejo. De onde vem o elogio da perversão que termina o volume. Lacan lhe confere o valor de uma rebelião contra as identificações que garantem a manutenção da rotina social.
Este Seminário anuncia “os rearranjos dos conformismos anteriormente instaurados, até sua ruptura”. Nós estamos nisso. Lacan fala de nós.
Jacques-Allain Miller

Campo Freudiano
Coleção fundada por Jacques Lacan

Capa: Alegoria com Vênus e Cupido, Bronzino (v.1545), óleo sobre madeira.
            Londres, National Gallery. ÓGetty Images.

domingo, 5 de maio de 2013

NÃO AGUENTAMOS MAIS O PAI


Jacques-Alain Miller lê
 Une semaine de vacances

Fragmentos selecionados e estabelecidos por Christiane Alberti da intervenção de J.-A. Miller, no sábado, 20 de abril, por ocasião das conversações, leituras e projeções animadas por Christine Angot no Teatro Sorano de Toulouse, de 18 a 21 abril  de 2013. O evento foi filmado e será retransmitido pela La Règle du jeu.

      «Une semaine de vacances1 mostra que não aguentamos mais o pai. Li como um apólogo para os dias atuais, um apólogo de nosso ‘saco cheio’ do pai. Ele nos fez entender porque é preciso sair do reinado do pai. O pai, esta ferida, teve seu tempo e hoje é obsoleto. O pai incestuoso é um personagem bem conhecido da literatura, no entanto, aqui se trata de outra coisa: é o romance do pai enquanto impossível de suportar. A este respeito, ele é real, um efeito de sentido paradoxalmente real. «Ela» (pois neste romance os protagonistas são designados somente pelos pronomes ele e ela) gravita em torno deste real, ela é totalmente voltada para ele. O girassol é heliotrópico, ela é mostrada como paternotrope, até chegar à eclipse do pai ao final do romance. É o romance do que Lacan chamou de a père-version, o tropismo ao pai .
            Como se libertar do pai? É possível livrar-se dele? Esta é a questão constante de Lacan. Seu ponto de partida foi o Nome-do-pai, colocado como função, do Seminário III ao Seminário IV,  para dar conta das psicoses, neuroses e perversões, mas não do que seria normal. Desde o Seminário VI, percebe-se que o conceito de desejo desloca as linhas do Édipo. Este Seminário que data de meio século – O desejo e sua interpretação2, é contemporâneo de Une semaine de vacances.
            O desejo tem não nada a ver com instinto, guia da vida infalível, que vai direto ao ponto, que conduz o sujeito em direção ao objeto de sua necessidade, que convém à sua vida e à preservação de sua espécie. Mesmo se este busca seu parceiro em sua realidade comum, o objeto de desejo se situa na fantasia de cada um. O Seminário busca explicitar a dimensão do fantasia: neste nível, há, entre o sujeito e o objeto um ou bem, ou bem. No nível do que se considera conhecimento, os dois, sujeito e objeto são adaptados um ao outro, há cooptação, coincidência, até mesmo fusão intuitiva dos dois. Na fantasia, por outro lado, não há este acordo, mas uma falha específica do sujeito diante do objeto de sua fascinação – um certo perder o fôlego. Lacan fala de fading do sujeito, do momento em que este não pode se nomear. Isto é representado no romance pelo fato de que as pessoas não são nomeadas, ficam anônimas, e as qualidades do pai e da filha são expressas de forma furtiva. Há somente a famosa «diferença sexual».
            Há, no Seminário, uma frase que diz: «O pudor  é a forma nobre do que se apresenta, no sintoma, como vergonha e nojo», compreendamos que o pudor é a barreira que nos impede quando estamos a caminho do real. Une semaine de vacances vai além da barreira do pudor e avança na zona onde habitualmente opera o sintoma através da vergonha e do nojo.
            Aí, encontramos um pai, o Ele do romance, que odeia o desejo: ele se ocupa do gozo. Na medida em que provoca seu eclipse ao final: Ela lhe conta um sonho, é uma mensagem de desejo a ser decifrada, e imediatamente, seu humor muda: Ele fica indignado, chateado, furioso. Ele se vai, fica amuado. O desejo, sob a forma do sonho, vem estragar a fixidez de seu gozo. Fixidez que suporta a repetição, que Camille Laurens explora seus poderes alhures. Aqui, o gozo retorna como um cântico insistente. A clivagem entre desejo e gozo se torna palpável, sendo o gozo uma bússola infalível, diferentemente do desejo.
            O pai manifesta sua vontade de transmitir um ideal, ele brinca de supereu. Os limites do pudor são franqueados e, ao mesmo tempo, restituídos de forma derrisória no nível do vocabulário – o pai cumpre a função de tudo bem dizer, fazendo disto a perversão.
            Estamos nos tempos de sair da era do pai. Se há um livro que me tenha dado esta sensação de forma mais viva, este é Une semaine de vacances. É emblemático do que estamos vivendo.
            Freud salvou o pai, enquanto que, segundo Lacan, o pai é para ser interpretado em termos da perversão. Vemos, no Seminário VI, que o Édipo não é a única solução do desejo: esta é a sua forma padronizada, e sua prisão. O Édipo é patogênico.
            Une semaine de vacances reatualiza este avanço do Seminário de Lacan. O desejo de Ela se emancipa graças ao mutismo e à raiva do pai. Ao final do romance, ela se encontra numa estação onde o único elemento familiar, heimlich, é sua mala. O texto se encerra com estas frases: «Ela o olha. E ela lhe fala». A mala substitui o pai, como objeto pequeno a. É aí onde agora está seu endereço, aí onde se aloja o sujeito suposto saber. Será sua mala que lhe interpretará seu sonho.

1Angot Ch., Une semaine de vacances, Flammarion, 2012.
2Lacan J., Le Séminaire, livre VI, Le désir et son interprétation, texte établi par Miller J.-A., La Martinière & Le Champ freudien, à paraître en juin 2013.


Os traumas na cura analítica – Bons e maus encontros com o real


Há uma teoria espontânea do trauma. O que não podia acontecer, aconteceu. Impensável! Inimaginável! Insuportável! Demais.

“Perco o controle” – Diante do impossível realizado o sujeito está perdido, não é mais o que ele era, nem para si nem para os outros. Nenhuma resposta vale. O sintoma explode.

A medicina, apoiada na ciência moderna, busca então uma solução – a pílula do dia seguinte, a preparação antecipada, a verbalização imediata. É a resposta pelo apagamento da memória – que tudo possa voltar a ser o que era antes e que os homens voltem a se ocupar dos seus afazeres tal como o imperativo do laço social exige. Não aconteceu porque não deveria ter acontecido. A questão surge: como viver depois do trauma sem o trauma?  Não se tira nenhuma lição do trauma.

Como o trauma faz parte da existência e não pode ser eliminado, a psicanálise opta por uma estratégia diferente, mais pragmática. Nenhuma alteração da memória, nenhum apagamento, nenhuma contra programação, nenhuma catarse, poderão eliminar o real. Mesmo supondo que tais soluções sejam possíveis, os danos colaterais seriam grandes demais e inaceitáveis do ponto do visto ético.

Então, o que propõe a psicanalise?  Ela considera que o trauma aconteceu, que ele modificou o sujeito e que ele se apresenta como avesso de um ato. E por isso que ela escolhe tirar do trauma um ensinamento. Desde a sua origem, a psicanálise, os analistas, Freud antes de todos, tiveram que reconhecer uma evidencia clínica: a realidade psíquica não coincide de modo algum com a realidade objetiva, seja ela fatual ou do discurso.

Mais ainda, a noção de trauma exige uma nova definição do fato e do evento que seja congruente com o sujeito do inconsciente. Lembremo-nos do celebre exemplo citado na Interpretação dos Sonhos revisto por Lacan.

Um pai perdeu seu filho, perda cruel, trauma no sentido comum. Exausto, ele pediu a uma pessoa familiar que se ocupasse de velar alguns instantes o corpo do filho amado. Mas, por sua vez, esse homem adormeceu ao lado da criança que, ela, dormia o seu sono derradeiro. De repente, um barulho: o fogo começou a queimar o corpo do filho amado. Esta é a realidade. Como é que o inconsciente responde? Por um pesadelo. A criança se aproxima e murmura “Pai, não vês que estou queimando?”. Onde está o trauma? A impossível voz do morto, eis o que verdadeiramente desperta o pai.

Uma imagem indelével, a erupção de um terror, a exacerbação de uma emoção, uma palavra eternamente inarticulável, são múltiplas as referencias às feridas que não se apagam, “perdas imaginarias no ponto mais cruel do objeto”. A expressão é de Lacan que celebra, na perda, a relação do trauma aos objetos, deixando o sujeito desnorteado, em um mundo que perdeu o sentido.

Aqui inicia-se o tratamento, no intervalo da fratura do sujeito, da perfuração da sua realidade. Sobre estes pontos de fixação, a maquina de produzir sentido se precipita e se esgota, confrontada ao que cegamente, o inconsciente real, não cessa de repetir.

Todo mundo delira, isto é, dá seu próprio sentido, porque todo mundo é traumatizado. Mas o delírio não liberta do trauma. Quando isso se repete, em quais condições um eu pode advir?

À universalização do delírio dos Uns-sozinhos, responde a generalização do trauma. O mal estar correlacionado ao sintoma cedeu seu lugar ao trauma relacionado à rejeição da marca, na medida em que o simbólico perde seu poder diante do real. A utopia dominante não é mais o recurso ao pai, mas ao risco zero com a docilidade geral que ele implica. Porém, não se leva ai em conta essa “coisa obscura” que está em nós. Cabe à psicanálise atribuir-lhe seu justo lugar, sempre singular, sempre contingente.

Christiane Alberti, Marie-Hélène Brousse

domingo, 7 de abril de 2013

Adesão ao CEPP


Em virtude das solicitações dirigidas ao CEPP sobre a formação em psicanálise, seguem alguns esclarecimentos. Àqueles que se interessam pela psicanálise como formação, o caminho está para além de um curso com uma temática definida e sua carga horária estabelecida. O CEPP é uma associação psicanalítica que adota a orientação lacaniana, que se norteia em seus conceitos e experiências para abordá-la. Esta orientação, que teve seu campo aberto por Freud, consiste na formação do analista, em uma práxis via análise pessoal, estudo teórico e supervisão clínica. Portanto, três pilares são interligados e contínuos no percurso da formação do  analista, sendo sustentado por um desejo como causa psicanalítica.

O CEPP trabalha com formações através de cursos, seminários, grupos de estudos, cinemas e arte. Desenvolvendo a psicanálise em práxis, ensino e extensão, que se constitui em uma Escola ou Associação como presentificadora da psicanálise no mundo, tão bem orientado por Lacan em seu texto Proposição de 9 de outubro de 1967, que nos convida ao debate da maneira de como nos garantirmos na formação do analista e qual o vínculo social possível entre estes.

Aqueles que se interessam pela psicanálise como formação de psicanalistas, o caminho está para além do curso propriamente dito. Desta forma, recomendamos que enviem uma carta à direção do CEPP, relatando seu desejo e percurso com a psicanálise. Uma vez aceita a carta, será realizado uma entrevista com o candidato à adesão ao CEPP. Essa solicitação pode ser feita durante todo ano.  Por outro lado, são benvindos no CEPP, todos vocês, que não desejem a formação, mas desejam constituir conexões específicas e diálogos com a psicanálise.
Att,
Carlange de Castro

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Comunicado

Comunicamos a todos que o CEPP já iniciou suas atividades internas. Em março estarão disponíveis ao público os cursos e atividade de cinema.