Por Margarida Assad, psicanalista e Membros da Escola Brasileira de Psicanálise - EBP
Esse texto é uma ampla parte do curso dado por Miller em colaboração com Laurent no ano de 1996/1997, O Outro que não Existe e seus comitês de ética.
Penso que aí já se anunciavam as transformações do ensino de Lacan e, que Miller vem nos transmitindo desde então em seus cursos, marcando o segundo e o ultimíssimo Lacan.
A premissa é que não há um saber no real, o que se articula a não haver um saber sobre a relação entre os sexos. Assim, diz Miller, se há sintoma então não há saber no real sobre a sexualidade.
Para desenvolver essa questão, Miller nos fala da parceria do sujeito com a verdade que se apresenta para Descartes na relação do homem com Deus. Em primeiro lugar nos trazendo a solução cartesiana para que o homem possa se relacionar com um Deus que não engane, que não se manifeste e não deseje, ou seja, um deus silencioso, um deus da ciência. Por outro lado, Descartes, também aborda um deus atormentado, furioso, é o deus bíblico.
Como jogar a partida com a verdade com esse Deus-janus?
Essa parceria nos aponta para a parceria com o Outro. No início do seu ensino Lacan, colocava um problema para o sujeito: o de ter seu desejo reconhecido pelo Outro. Mas o conceito de Outro em Lacan se modifica, deixando de ser o Outro com a marca do significante fálico para aceder a um lugar de furo, de não resposta, de silêncio. O Outro sexual também se modifica e o sujeito terá que se relacionar com seu gozo, seu objeto a, semblante de objeto.
O parceiro então é o gozo; e o parceiro sexual será escolhido em função de como ele elabora seu saber sobre sua posição de exilado da relação sexual. Desta forma, é o sintoma, que passa a ocupar o lugar formal do núcleo de gozo. Surge uma nova teoria sobre o amor. Um amor que não passa pelo narcisismo, mas pelo inconsciente, ou seja, pela elucubração do saber da não relação sexual. Há o sintoma como um recurso para saber fazer com o outro sexo, que se torna um revestimento para o objeto a. O parceiro é assim o invólucro formal do núcleo de gozo. O que leva Lacan a dizer que no nível do sintoma o sujeito é sempre feliz.
Assim, se já podíamos pensar em um Deus janus, um que engana e um que não engana, podemos pensar em um objeto janus, um objeto fálico e um real, semblante de objeto. Mas também podemos falar em um sintoma janus, pois, como nos diz Miller, ele é o que não vai bem, mas é também o único lugar onde isso rola...
Com essas considerações podemos propor algumas questões sobre o tema de nosso colóquio:
Como explicar a parceria com um objeto da pulsão no nível do fundamento sintomático do casal?
Quais transformações podem ser pensadas sobre a pulsão quando o final de análise não se esgota na travessia da fantasia? Ou, se não há travessia da pulsão o que é a cura?
É possível amar seu sintoma? Fazer bom uso dele é amá-lo? O que se ama, quando há sinthoma e não sintoma?
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
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