por Jacques-Alain Miller
Como o senhor explica a Obamania ?
Pelo fato de Bush ter se tornado um objeto fóbico. Depois do diabólico Nixon do Watergate, a América já havia se entregado a um bom menino que plantava amendoins, Jimmy Carter. Bush fez muito pior que Nixon, instalou-se, com grande prazer, no papel de "inimigo do gênero humano": recusa do protocolo de Kyoto, desprezo pelas instituições internacionais, política de guerra preventiva, direito de torturar, culto da força, chauvinismo, etc. Cheney, seu vice-presidente, foi apelidado de "Darth Vader". O duo conseguiu fazer dos USA o novo “Império do Mal”. Obama é para os americanos a redenção. A bondade em cartaz. Escuta, consenso, respeito ao outro, às diferenças, aos pobres, aos fracos, “todo mundo: ele é bonito, ele é gentil”.
Sim, mas a fascinação por Obama vai além dos Estados-Unidos, é um fenômeno planetário.
Porque os Estados Unidos é a única potência planetária que resta. A Bushfobia era mundial e inverteu-se logicamente em Obamania universal. Obama é o homem-espelho do Universo, "o homem-microcosmo", como se dizia no Renascimento, aquele que representa o mundo em sua diversidade, que reconcilia, em sua pessoa, as raças e os sexos: ele é africano, é americano, é negro, é branco, é homem, mas, ao mesmo tempo bem na moda, muito manequim, feminino, esguio, fluido, "um gato", o contrário de um McCain, deficiente, confuso, remendado, cabeça quente, uma cara mutilada, ostentando uma virilidade agressiva que já estava pura e simplesmente desgastada. Mestiço e hermafrodita, tem melhor?
Com a Obamania não se está mais na rubrica política: fala-se de “esperança”, evoca-se “milagres”, comparam seu “Yes we can” com o “Não tenham medo” de João-Paulo II.
Com efeito, Obama sabiamente cultivou uma imagem de salvador e de redentor do mundo que ele prometeu – vejam bem – “curar” e “mudar”. Sua genialidade foi não recuar diante da maluquice e ir buscar, sem vergonha nem hesitação, no estoque dos mais antigos mitos, as mais antigas crenças da humanidade. E isso funciona, mesmo na idade da ciência, mesmo quando se crê não mais acreditar nisso. Ao mesmo tempo, sua campanha usava com mestria as mais recentes tecnologias. Representou cientemente o Messias, modernizando o papel com a ajuda de uma retórica completamente hollywoodiana: ele fala como num filme.
Obama é atualmente o homem mais amado do planeta. Mas já se diz que a decepção é inevitável e será à altura desse amor.
Isso é política água com açúcar. Obama fez carreira em Chicago, onde os melosos não duram muito tempo. Tudo indica que ele, pelo menos, não se toma por Obama. Seu primeiro recruta?, seu chapa, um outro de Chicago, Rahm Emanuel, que será seu verdadeiro número 2: um celerado hiper-eficaz, que não livra a cara de ninguém. Ele irá se agitar nos bastidores enquanto, em cena, nosso São João Boca de Ouro nos cantará cantigas de ninar.
Tradução: Vera A. Ribeiro
Revisão: Sérgio Laia.
quarta-feira, 17 de junho de 2009
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