segunda-feira, 5 de abril de 2010

Considerações sobre seminário.

Lidia de Noronha, Psicanalista e Antropologa

Sônia Vicente, psicanalista membro da Associação Mundial de Psicanálise e da Escola Brasileira de Psicanálise, Seção Bahia, no dia 12 realizou a palestra: “Contribuições da psicanálise à saúde mental e no dia 13 de março ministrou o Seminário: A transferência.

Foi para nós uma grande oportunidade escutar as experiências de Sonia quanto ao trabalho de supervisão psicanalítica em alguns CAPS de Salvador, como também observar suas referências teóricas psicanalíticas que embasaram essa experiência.
Os psicanalistas são chamados para trabalhar dentro da instituição pela sua escuta diferenciada em que o sintoma não é tratado como uma patologia, mas como algo estrutural. Para a psicanálise não há saúde mental, pois todos nós somos enfermos da linguagem. A enfermidade é o inconsciente porque seu discurso desarmoniza. A saúde é o compromisso com o social, e o mental é a adaptação do corpo: ver, lembrar, poder pensar. Nesse sentido, o sintoma faz falar e viver e não podemos segregar ninguém pelo sintoma. Afirma, “de perto todo mundo delira”.
Na instituição não há psicanalistas, mas psicanálise. Na sua experiência de supervisão, toda a equipe da instituição deve ser reunida para discutir a partir de casos clínicos. Esse é o momento de abertura para se reinventar a instituição a partir do furo, do não saber. E dessa forma fazer com que os sujeitos se sintam melhores, com seus sonhos, com sua liberdade de expressão de poderem falar e serem escutados.

No seminário de 8hs, o conceito de Transferência é abordado como um dos quatro conceitos fundamentais da psicanálise, ao lado do conceito de pulsão, repetição e inconsciente, que graficamente são representando por duas hélices cruzadas, em que o centro é um furo, uma falta.
Nessa exposição, de grande densidade, Sonia associa o conceito de suposto saber com a sessão clínica e as estruturas clínicas, especialmente a psicose e a histeria.
Situa o sujeito suposto saber como a mola da transferência. Quando o sintoma não dá mais a satisfação desejada procura-se alguém que possa dá a resposta, que saiba sobre o que se quer dizer. O psicanalista não deve responder a demanda porque o inconsciente do sujeito ao falar já faz sua interpretação porque o sujeito é suposto saber por um significante.
Na sessão clínica, o analista não ocupa o lugar daquele que sabe, não explica, mas através do manejo da transferência faz o analisando se comprometer com sua historia e criar sentido para sua experiência. O que é manejo da transferência? Na sessão clínica o psicanalista faz interpretação com palavra, com corte e com ato. Interpretação com palavras através de citações, de uso de palavras homófonas e de pontuações. Corte, significa o analista interromper para mudar o sentido, cortar o gozo de ficar rodando na cadeia significante. E ato analítico quer dizer a mudança subjetiva do sujeito e que ocorre só depois.
Lembra do erro de Freud no manejo do caso Dora, que operando a partir dele, dos seus preconceitos, afirma que Dora estaria interessada no Sr.K e no caso da homossexualidade na direção da Sr. K, e dessa forma não percebeu que o interesse de Dora não era no Sr. K-Pai-Freud mas na Sra K porque ela respondia sobre o enigma do que é uma mulher.
Sublinha que a direção do tratamento deve se diferenciar para as neuroses e a psicose. Nas neuroses, como o sujeito está sob a barra do recalque, ele pode realizar suas interpretações, entretanto na psicose como o sujeito está na linguagem, mas não está no discurso não consegue simbolizar a castração. Portanto o analista deve acolher a sua verdade não chamando a simbolização.
Finaliza o seminário apresentando um caso clínico em que seu manejo foi acolher a paciente e não interpretar, mesmo se tratando de uma neurose histérica.

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