quarta-feira, 25 de julho de 2012

Para uma política da ignorância em psicanálise


Claire Zebrowski

Gostaria de interrogar a orientação do discurso e a postura da psicanálise em relação à questão do autismo, nestes tempos em que a sociedade promove os conhecimentos imaginários.
Minha observação não visa as escolhas feitas pelas famílias, que estão tentando encontrar maneiras que levem seus filhos autistas a avançarem, mas o discurso dos promotores dos métodos do tipo ABA, e daqueles que excluem a possibilidade de um acompanhamento variado e livremente organizado para cada pessoa com autismo.

O saber pronto para o uso como sintoma de nossa época
No Petit Journal número 61 , Laetitia Belle recorda um artigo de François Leguil publicado na revista Mental. A partir da fórmula dada por Jacques-Alain Miller «Os usos do sintoma», em seu curso da Orientação lacaniana, François Leguil sustenta: «Nós podemos opor à noção de uso a de modo de usar; aos modos de usar, de preferência, se pensarmos em sua proliferação quase persecutória, como a proliferação que é o preço das técnicas»2 . Esta distinção me evoca a evolução dos conhecimentos na sociedade capitalista contemporânea. Falo dos conhecimentos no plural e, não do saber no singular, porque o saber não se manifesta mais tanto como veículo das idéias – políticas, sociais, religiosas –, mas antes, como verdades contíguas aos objetos de conhecimento, à maneira das aplicações para os iphones.  O saber é «tecnificado» [technifié], diretamente colado ao objeto, reificado. Deve ser eficaz como mostram a referência aos peritos, a generalização das políticas de avaliação, ou ainda a leitura montada numa escala que as TCC aplicam à humanidade, e vem daí, o método ABA apresentado como única fonte de saber sobre o autismo. 

O artigo «Uma semana com o ABA», publicado no Lacan Cotidiano n º 1973, mostra bem o tipo de «saber» que se busca para inspirar àqueles que trabalham com pessoas autistas. Este é um saber que não deixa espaço para a troca, que não pode ser discutido. É assim que Sylvie Dagnino, enfermeira em um centro infantil, narra a semana de formação no método ABA que ela seguiu: «Durante os primeiros dois dias, é passado o essencial da formação. Nos dias seguintes, o treinador repete as mesmas afirmações, ordenados em sequências curtas de edição de vídeo. Há poucas trocas com os participantes, pouco espaço para as perguntas». Gestos marcados, a altura da voz do treinador, cativam a atenção, «impedindo qualquer reflexão pessoal», «seu discurso não deixa espaço para a incerteza».
O que se entende, é que o método ABA, essa «análise aplicada aos comportamentos» como o nomeia a treinadora, é dado como uma verdade eficiente. Este é um saber agarrado ao seu objeto por um «é assim», o que retorna quase como identificar a palavra a um real. Poderíamos  nos preocupar com o risco exposto pelo método ABA de levar a um  discurso de ódio. Retomemos com Jacques Lacan. No Seminário, Livro 1, em que ele situa as três paixões, que são o amor, o ódio, e a ignorância, em relação às três ordens do simbólico, do real e do imaginário: «Na junção do simbólico e do imaginário, nesta fenda, se quiserem, esta aresta que se chama amor - na conjunção do imaginário e do real – o ódio e, na  junção do real e do simbólico, a ignorância»4.

O ódio, é, portanto, o que se encontra quando não há mais o simbólico, quando a linguagem foi ejetada e apenas o imaginário e o real se emaranham. A psicanálise não diz «a cada problema há uma solução», ela  afirma que a qualquer situação corresponde um saber pronto para ser usado. Ela sustenta que a relação não existe, e que diante do enigma, trata-se de se questionar e não, de início, responder.  É esta posição interrogativa do sujeito que determina o verdadeiro e o falso, nos diz Lacan.5 É daí que me vem, portanto, uma política da ignorância.

Política da ignorância

Ainda no Seminário 1, Lacan coloca a pergunta: «O que é a ignorância? É uma noção certamente dialética, porque é somente na perspectiva da verdade que ela se constitui como tal»6. Ignorância e verdade fazem par.
 No que diz respeito ao psicanalista, a ignorância é uma postura, que funda a sua ética. Lacan prossegue assim : «Em outros termos, a posição do analista deve ser a de uma ignorantia docta, o que não quer dizer sábia, mas formal»7. Segundo Le Petit Robert, formal é o que, por um lado, é preciso e afirmativo: o psicanalista tem que ser preciso e afirmativo. E, por outra parte, o formal é o que concerne à forma: o psicanalista tem a fazer com a estrutura do saber. Ora, na estrutura do saber, é precisamente aquela em que existe uma hiância, uma não-relação no coração de todo saber. O saber do psicanalista não é «tecnificado», ele não supõe que isso anda. Ao contrário, o que ele sabe é que isso não anda necessariamente, ou seja, que não há necessidade que isso funcione, que isso fracasse. O psicanalista toma, portanto, a postura do ignorante no sentido em que há saber sobre esta hiância. É o que funda a sua ética, porque é a partir dela que ele opera, e é daí que ele pode ouvir o que cada sujeito tem de único.  Estamos muito distante do método ABA, que expõe as pessoas autistas a comportamentos calcados em modelos imaginários de normalidade. Inversamente, a psicanálise aposta que um sujeito autista tem algo a inventar e não apenas a imitar, e que isto não se mede em termos de eficácia. É neste sentido que o ato analítico pode permanecer um ato ético.
Vamos ao segundo tipo de ignorância da qual quero falar: uma ignorância de caráter político. Esta idéia me vem da seguinte leitura do Seminário 1: «A tentação é grande, porque está em voga, neste tempo do ódio, transformar a ignorantia docta, no que chamei, não é de ontem, uma ignorantia docens. Que o psicanalista acredite saber alguma coisa, em psicologia por exemplo, já é o começo da sua perda»8. A ignorância do psicanalista deve ser douta, no sentido formal como nós vimos, e não docens, científica. Em outras palavras, o saber em psicanálise não é da ordem do conhecimento, nem da representação.9 O psicanalista não prega um saber total, totalmente imaginário poderíamos dizer, ele não busca professar, e seu discurso público se ressente disso. Quanto ao «tempo de ódio» do qual fala Lacan em 1954, ou seja, menos de dez anos após o fim da segunda guerra mundial, pode-se considerar que não tem mais validade hoje. Entretanto, a imagem de nossa sociedade, a ascensão ao zênite do objeto a como o formula Jacques-Alain Miller, sem mencionar a perturbação da ordem simbólica, devem despertar a nossa vigilância quanto ao empuxo dos discursos em forma de injunção à um modelo. O real e o imaginário fazem raramente um bom conjunto quando são desatados do simbólico. As pesquisas mostram que o autismo faz enigma, e é por isso que uma abordagem no plural é necessária. Assim, contra a onipotência dos saberes sintomáticos de nossa época, prontos ao uso, contra as suas aplicações sem mediação sobre o autismo, eu tomaria o partido de uma política da ignorância em psicanálise, que deixa lugar ao saber inédito de cada sujeito.

As referências bibliográficas encontram-se no fim deste número.
Claire Zebrowski apresentou esta intervenção por ocasião do FORUM POUR UN ABORD CLINIQUE DE L'AUTISME, que ocorreu em Angers nesta quinta, dia 14 de junho.

Para uma informação sobre o conjunto dos fóruns organizados em toda a França:


sexta-feira, 13 de julho de 2012

A INFÂNCIA SOB CONTROLE


Miquel Bassols


Essa intervenção foi feita em Barcelona, durante uma reunião preparatória para o Fórum 3 do ELN, que acontecerá em Sevilha, 2 de junho de 2012, sobre o tema « O quê a avaliação silencia: a infância sob controle » 

1) A infância, tal como a concebemos, nem sempre foi definida da mesma forma. Isto é um fato, que já tinhamos destacado a partir dos estudos, por exemplo, de Philippe Ariès e da História das mentalidades. O tempo designado como “infância†mudou consideravelmente ao longo da história, o quê nos indica que a infância é, antes de tudo, um fato de discurso. O que entendemos hoje por “infância†é necessariamente constituído como um “tempo passado†, mais ou menos idealizado, como um lugar situado em e a partir do discurso do Outro. Aliás, é sempre oportuno lembrar, como Lacan o fez em várias ocasiões, a etimologia do termo infância que provém de infans: (in-fari) alguém que não é capaz de falar, não para articular as palavras, mas para falar em público, de se representar no espaço público enquanto que sujeito do discurso. A infância é, portanto, constituida primeiramente como um lugar anterior e exterior a um discurso. A criança é assim aquela que deve permanecer necessariamente sob a responsabilidade do Outro, sem ser capaz de se tornar sujeito de uma responsabilidade social.

2) E porquê se deveria “controlar†esse fato de discurso? Porque a infância veio para designar também algo ignorado na vida de cada sujeito, algo que permanece também fora do discurso, como o que, simultaneamente, é o mais íntimo e estranho, o que é o mais idealizado, mas também o mais escondido. Se Freud pôde dizer que qualquer lembrança é uma lembrança encobridora, a infância é, como experiência de um tempo subjetivo, a lembrança encobridora por excelência de cada sujeito: ela sempre esconde um segredo familiar, ela é o véu, a tela de um segredo sempre ignorado.

3) E qual é esse segredo, sempre ignorado? É, primeiramente, o segredo do quê chamamos de “gozo†, quer dizer, uma experiência em torno dos diversos objetos pulsionais. A infância torna assim presente o objeto de uma experiência de gozo para cada sujeito. “A infância sob controle†é então a infância como um objeto das práticas do controle do Outro – das práticas de poder, vigilância e castigo (cf. Michel Foucault). A infância como objeto também é, necessariamente, o lugar de uma segregação. Ela faz série, historicamente, com o lugar da loucura e da mulher. Lembremos a observação de Jacques Lacan em 1968, no seu “Alocução sobre as psicoses da criança†: a segregação é “o fator, o problema mais candente em nossa época, enquanto que, a primeira, ela tem que sentir o questionamento de todas as estruturas sociais pelo progresso da ciência2†. Lacan antecipou assim a segregação como o fenômeno que se estende em nosso universo “de maneira cada vez mais premente†.
Apesar das boas intenções de qualquer política de integração, como não se pode notar que a infância é atualmente um objeto de segregação, na medida em quê ela é inerente à função do objeto como resto de um gozo? Não se têm garantias de que uma maior atenção e uma vigilância reforçada possam preservar a infância desta separação estrutural. Pode-se ver estes efeitos em determinadas políticas de integração a todo o custo da criança “diferente†, integração que duplica, na verdade, este efeito de segregação. Sob o ideal de normalização da criança sempre haverá este lugar do objeto “segregado†como resto de gozo.

4) A criança foi e é objeto do gozo do Outro, especialmente como um objeto sexual: presume-se que esta observação faz parte - assumida como tal - da descoberta freudiana. Mas, identificar a infância como objeto não foi o ponto mais subversivo desta descoberta. A verdadeira descoberta - já presente nos “Três ensaios sobre a teoria sexual†de 1905 – é de ter ouvido o sujeito da infância como um sujeito de pleno direito na sua relação ao inconsciente e ao desejo. Há algo mais subversivo ainda do quê de ter atualizado o lugar da criança como um objeto sexual: é a idéia de um gozo sexual na infância, a idéia de que existe um sujeito, responsável por um desejo e um gozo, no espaço que se designa como “infância†; é também o fato de que se tenha uma responsabilidade no sujeito do inconsciente freudiano, que se estende para a infância o lugar de um sujeito da fala e da linguagem.

5) Quem está pronto hoje para assumir esta verdade e seus efeitos nos diversos campos do saber e nas práticas que são-lhe proprias? Mantemos normalmente um silêncio sobre a infância como lugar de um sujeito de desejo e de gozo.
O discurso científico, na sua aliança com o discurso do capitalismo, se lançou decididamente numa estratégia de avaliação, contrôle, vigilância e triagem da infância, como sujeito de um gozo que se torna intolerável, que augura mesmo o pior dos destinos sociais. É preciso se lembrar das campanhas realizadas em vários países para a prevenção da delinquência adulta, nas escolas, a partir do controle avaliador das crianças.
O discurso jurídico tem atualmente encontrado dificuldades em identificar a responsabilidade do sujeito da infância: a partir de que momento um sujeito pode ser considerado legalmente responsável por seus atos? A aplicação das leis faz recuar este momento a uma idade cada vez mais precoce.
O discurso pedagógico, entretanto, continua atualmente claramente dividido entre uma visão da criança como objeto de um controle e de uma prevenção dos “distúrbios†do mundo adulto, e uma visão da criança como um educando, um sujeito de experiência em relação ao saber.
6) Para o discurso psicanalítico, a criança é, primeiramente, um sujeito-suposto-saber da mesma forma que o adulto. Foi o comentário feito por Jacques-Alain Miller na intervenção durante as Jornadas da Criança, em março de 2011, com o título A criança e o saber:
“É a criança, na psicanálise, que é suposto saber, e é mais o Outro de que se trata educar, é o Outro que deve aprender a se segurar. Quando este Outro é incoerente e dividido, quando ele deixa assim o sujeito sem bússola e sem identificação, trata-se de elucubrar com a criança um saber ao seu alcance, à sua medida, que possa servir-lhe. Quando o Outro asfixia o sujeito, trata-se, com a criança, de fazê-lo recuar, para fazer com quê esta criança respire. Em todos os casos, o analista está do lado do sujeito†.

Escutar e ouvir a infância como sujeito-suposto-saber implica tomar cada criança como um ser que fala, como um falasser, mesmo quando ele é falado em demasia pelo Outro como infans, como sintoma deste Outro, mas sujeito enfim responsável do desejo e do gozo que o habitam, sempre fora de controle.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Pascal Dusapin, é Joyce ! por Armelle Gaydon: 3 perguntas à Valentine Dechambre


É a primeira vez em nosso campo que é publicado um trabalho sobre a relação entre música e psicanálise, a partir de uma abordagem lacaniana. Em uma série de entrevistas concedidas a psicanalistas da ECF, sob a direção de Valentine Dechambre, o grande compositor de música contemporânea Pascal Dusapin apresenta questões inusitadas sobre seu ato de criação. A essas entrevistas, que surpreendem pelo seu teor joyciano, seguem-se artigos e análises de colegas da Escola: François Ansermet, Nathalie Georges-Lambrichs, Jacqueline Dhéret e ainda outros.

Se Lacan não tinha uma teoria da arte, «podemos com ele nos orientar sobre as questões da arte – sobre a arte de analisar, igualmente» (F. Regnault). Colegas o fizeram na literatura, no teatro – mas nunca na música, fora alguns trabalhos medíocres. A tal ponto que a tarefa pareceu impossível. Por que e como se tornou possível com Pascal Dusapin?

Pascal Dusapin é um compositor que tem a preocupação de transmitir o que antecipa sua criação musical, «essa alguma coisa antes da música», «essa parte confusa, aquela que ignoramos» que encontra o próprio objeto da psicanálise. Fez isso de maneira notável no ano em que foi professor no Colégio de França. Propus-lhe esse encontro com psicanalistas, alunos de Lacan e de Jacques-Alain Miller. Encontro que se impunha. Suas elaborações sobre a necessidade da escrita musical ressoam com o que Lacan diz de Joyce, quando procura delimitar o real em jogo na psicanálise, a partir do próprio ato criador.
A longa e viva conversação que constitui o miolo do livro testemunha a confiança do compositor a respeito do discurso da psicanálise para tentar dizer – e não explicar! – dessa discordância, dessa verdade indecifrável do corpo, que ele coloca no próprio princípio de sua criação.
«Procuro minha casa», ele pode nos dizer em uma entrevista, com uma modéstia pouco habitual a um artista de seu porte, o mais tocado de sua geração nas encenações internacionais com Pierre Boulez.
Dessas entrevistas que se desenvolveram em quatro tempos na rua Huysmans, ele disse «que elas se parecem com o trabalho dele», testemunhando do êxito do que era para nós, apenas uma aposta: nos fazermos passadores da maneira excepcional pela qual Pascal Dusapin se responsabiliza em sua arte por essa parte obscura do gozo que não se relaciona com nada.
Os especialistas dizem da música de Pascal Dusapin, que é impossível situá-la na música contemporânea. É verdade que escapa à exigência experimental e formal que essa disciplina atualmente aceita e seduz os pesquisadores em neurociências (vejam o site do IRCAM): a técnica informática acaba transformando tais compositores mais em engenheiros do som do que em artistas, no sentido lacaniano daquele que se faz artesão do que se impõe do sintoma. A audácia criadora de Pascal Dusapin, fora dos aparelhos da tradição, reencontra a ética da psicanálise, de sua prática, no ponto dessa responsabilidade do real. 

Portanto, nesse livro, nada de psicanálise aplicada à arte, mas arte aplicada à psicanálise?
Sim. Pascal Dusapin apresentou-se a nós como um Joyce da música. Uma referência que agrada muito o compositor, nem que seja pela alegria que ele encontra em seu trabalho, um manejo da letra musical que não espera nada dos efeitos de sentido, como podem testemunhar também seus libretos de ópera. «Alegrar-se» está no princípio desta obra, excepcional por seu manejo rigoroso da escrita. Ele nos ensina quanto o corpo libidinal surge do corte, dito de outro modo, o quanto este último pode se experimentar como vivo a partir do ato que faz corte. O que rompe é também o que permite fazer o enovelamento o corpo à língua: eis aí o ensino da obra de Pascal Dusapin – que reencontra o de Jacques Lacan.

Acredita-se, em geral, que Jacques Lacan era alheio à música porque pouco se expressou sobre o assunto. Ora, ele frequentava os concertos de Boulez, Berio ou Stockhausen. Que diz Lacan sobre a música?
Lacan assistia aos concertos do Domínio Musical onde se encontravam os artistas mais engajados na luta contra os conformismos artísticos. Mesmo que as referências à música sejam discretas em seu Seminário, os destaques à língua musical são numerosos. Entre outras coisas, penso no que ele disse à propósito da tonalidade e da modulação no Seminário 24, no momento em que fala dos nós, numa referência à poesia chinesa, para dizer do trabalho do sintoma (1). Isto é apenas um exemplo. Esse trabalho ainda está por fazer. Quando leio Lacan, escuto uma música que não se opõe à discordância…

(1)Jacques Lacan, O Seminário, Livro 24, L’insu que sait de l’une-bévue s’aile à mourre (1976-77), Lição do 19 de abril de 1977, inédito.

Valentine Dechambre (Dir.), Pascal Dusapin. Flux, trace, temps. Entretiens sur la musique et la psychanalyse.Fluxo, marca, tempo, inconsciente. Prefácio de Richard Peduzzi, posfácio de François Ansermet, Nantes, Editions Cécile Defaut, Collection Psiqué, junho de 2012.
À venda na ECF-Echoppe, Fnac.com, e livrarias.
Escutar e ver : Paixão – by Pascal Dusapin & Sasha Waltz.