Nesta
quarta 30 de maio, a Fundação política Gabriel Péri recebeu Jean-Daniel Matet, presidente da Ecole de la
Cause freudienne, para uma conferência-debate sobre o autismo e a psicanálise. Alain Obadia, vice-presidente da Fundação, em seu
preâmbulo, lembrou que este ano, definido como o ano do autismo estava mal
engajado em torno de um novo questionamento « grave » da psicanálise
através de artigos de imprensa, do filme « Le mur », da proposição
de lei do deputado Fasquelle e, enfim, das recomendações da HAS. Sem tomar
partido num debate que não dominam, seus responsáveis chocados pelo fato de que
as coisas são tratadas sob a forma de um anátema, tinham desejado contribuir
eficazmente, graças à intervenção de Jean-Daniel Matet no debate no interesse
das pessoas autistas.
Jean-Daniel
Matet apresentou alguns pontos do que faz hoje o debate e o que está em jogo no
caso a partir de uma leitura histórica, clínica e ética do cuidado aos sujeitos
autistas. Ele lembrou que a psicanálise não se limita ao que se passa no
consultório dos psicanalistas. Muitos psicanalistas trabalham nas instituições
que acolhem crianças ou adultos autistas como psicólogos, educadores,
psiquiatras – particularmente depois da segunda metade do século XXI. Essas
instituições nasceram sob a pressão do meio associativo, geralmente dos pais
dessas crianças por longo tempo deixadas por conta da psiquiatria pública. As
instituições que nasceram da intervenção das associações o foram sob o
registro da educação especializada para pessoas deficientes, particularmente
desde a lei de 1975. É sem dúvida aqui, explicou Jean-Daniel Matet, que se
pode achar « a origem da tensão permanente entre o cuidado e a educação
que toma em certas épocas ares de guerra. » Então mesmo que a aliança
entre o cuidado e a educação como prevê a lei de 1975 funciona, o melhor disso
pode ser esperado para as crianças e suas famílias. A psicanálise na
interface psiquiátrica e médico-social, tem um lugar importante para o que a
descoberta de Freud permitiu para o desenvolvimento psíquico e libidinal da
criança. Uma concepção da criança como sujeito à parte inteira que
permite aos psicanalistas hipóteses de trabalho, como podem testemunhar os
trabalhos de Anna Freud e Mélanie Klein.
Jean-Daniel
Matet insistiu sobre a importância da história das ideias e dos saberes nesse
campo « na hora onde a aliança do capitalismo e da ciência faz promessas
sobre o futuro humano fazendo o impasse sobre a subjetividade, sobre o estatuto
do íntimo na história de cada um. » Isto sendo particularmente verdadeiro
para o autismo. Ele lembrou a história dessa categoria clínica. Ele precisou a
que ponto o apelo de certas associações por « uma normalidade
autista » que se oporia à loucura das outras é pouco eficaz e
problemática. Como o é a tentação de creditar a idéia de uma causa confessa do
autismo pela ciência médica. Ciência que pensa poder tudo explicar sem resto
pela criptografia dos nossos genes e das moléculas que fazem nossos
organismos. « O que a psicanálise sustenta é que há um irredutível
ligado à sexualidade e ao inconsciente, um buraco no simbólico, dizia Lacan, ao
qual cada humano a partir de sua relação com a linguagem tem a ver. É o que
pode se resumir em termos de causalidade psíquica. É isso que uma cura
psicanalítica explora para identificar a solução que cada um encontrou para
fazer face a esse buraco que faz com que não se possa dizer tudo ». O que
Lacan depois de Freud chamou de sintoma : o que diz a verdade do sujeito
sobre a vertente simbólica mas o diz também no real lado gozo. A psicanálise
está, por esse fato, do lado do não conformismo, ela perturba e cai, numa
sociedade de ordem, do mesmo lado que o autismo como aquilo que deve ser
recolocado no caminho. É na pesquisa de uma via acessível a cada um que convém
dirigir-se e não à promoção de um método que valha para todos e cuja
consequência, a experiência o mostra, é o retorno de uma série de sintomas que
testemunham um « não para todos ».
Como Jean-Daniel Matet expôs e
soube transmitir na sua conferência « na experiência da cura o sujeito
procura uma solução viável para o exercício de seu direito ao gozo. É esta
experiência que os psicanalistas podem transmitir a outras disciplinas, outros
discursos, para tentar tornar flexível as categorias comuns, tornar próprio
acolher os impasses do gozo que se manifestam numa dimensão totalmente inédita
nesse século XXI. »
O debate
se seguiu engajado, inicialmente com o testemunho de Mireille Batu sobre a
dificuldade do caminho dos pais de crianças autistas para obter respostas e
apoio. Que esse apoio, ela o tinha obtido dos psicanalistas. Se, como expunha
Jean-Daniel Matet, alguns pais engajados nas associações que defendem o método
ABA tendem em suas acusações feitas aos analistas a projetar a culpa no campo
do Outro sob uma forma odiosa, ela tinha podido avaliar que culpabilidade e
responsabilidade estavam no centro da vida dos pais. Yasmine Grasser
insistiu sobre o que está em jogo em termos de uma escolha de sociedade que
propõe DSM e método cognitivista endossados pelo discurso do capitalismo e da
ciência. Estela Solano insistiu sobre a importânica da transmissão da
experiência pelos psicanaistas do que cada um desses sujeitos nos ensina.
Uma educadora enfim interveio, a partir de sua experiência, sobre a importância
da « bricolagem» no sentido de invenção desses sujeitos e daqueles que os
acompanham para que a relação se instale e os progressos se façam para cada
pessoa acolhida aqui onde os métodos cognitivistas dão a ilusão de um modo de
emprego pelo qual os pais seriam atores da relação com seus filhos. Alain
Obadia reafirmou, na qualidade de responsável político, como um princípio
intangível que não cabia ao estado, aos deputados e senadores, determinar o que
são os bons métodos para acompanhar e fazer progredir as pessoas
autistas. Na medida em que o saber deles era aquele sobre o conjunto dos
cidadãos, não mais, e também aquele das instâncias que são a sede de lobbying.
Que há nesse combate maniqueísta contra a psicanálise uma cortina de fumaça
para não tratar as questões importantes dos lugares que faltam nas
instituições, da maneira como as associações devem lutar para obter meios
decentes de funcionamento, enfim dos prazos muito importantes antes que a MDPH acuse
recebimento das demandas que lhe são endereçadas. Se a fundação Gabriel Péri
não tem vocação para se fazer a porta bandeira da psicanálise, seu papel é o de
fazer de sorte que o debate se faça sobre as melhores bases possíveis. Depois,
é a partir da experiência e do saber que ele tem como pai de um jovem autista
de 33 anos e como presidente de uma associação de pais que gerencia 10
estabelecimentos dos quais a metade recebe principalmente pessoas autistas, que
ele falou como « observador-ator ». « Como sair por cima do
confronto tal como ele se estruturou nesses últimos meses em acusações sobre a
psicanálise e sobre a idéia de que haveriam métodos eficazes que seriam os
únicos a terem o direito de serem citados ? » Depois, ele marca que é
muito importante para os psicanalistas saber fazerem-se compreender e sublinha
alguns pontos fortes que se destacam da exposição de Jean-Daniel Matet:
A
pluralidade das abordagens : o laço indispensável entre educativo e
cuidador. Ele insiste sobre o fato de que é a experiência cotidiana dos
estabelecimentos.
A
desconfiança que é importante levantar sobre os métodos de varinhas mágicas.
Ele lembra que, após o método Teach, recomeçou-se com o método ABA. « É
essencial porque é a oposição de cada um ao todos e vocês são os portadores da
idéia de cada um ». Ele sublinhou especialmente a importância para a
associação de que é o presidente de que o apoio seja adaptado a cada pessoa em
sua singularidade irredutível.
A
idéia da negação do subjetivo. As pessoas, nos disse, são consideradas como o
neurobiológico, « o que faz com que sejamos « corpos e
cérebros» como nos sugeria à RATP [onde Alain Obadia trabalhava], um
cognitivista que tinha vindo fazer um seminário sobre como essas ciências
poderiam trazer alguma coisa para a comunicação com os usuários ».
Depois
ele concluiu : « o que vocês dizem é mais complicado que o que dizem
os cognitivistas mas a realidade é mais complexa que o que eles nos apresentam.
Alguns argumentos que valem para cada um e para todos. ».
Conservarei
desse debate a qualidade e a simplicidade da transmissão de Jean-Daniel Matet
tanto em sua análise da história das instituições, das ideias e dos saberes
sobre a clínica com os autistas quanto no que ele transmitiu da prática
psicanalítica : a invenção singular e a transmissão de cada um segundo seu
estilo que abre à troca e permite o encontro.
Fonte: www.lacanquotidien.fr
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