sexta-feira, 22 de junho de 2012

Debate sobre o autisme e a psicanálise na Fundação Gabriel Péri


Nesta quarta 30 de maio, a Fundação política Gabriel Péri recebeu Jean-Daniel Matet, presidente da Ecole de la Cause freudienne, para uma conferência-debate sobre o autismo e a psicanálise. Alain Obadia, vice-presidente da Fundação, em seu preâmbulo, lembrou que este ano, definido como o ano do autismo estava mal engajado em torno de um novo questionamento « grave » da psicanálise através de artigos de imprensa, do filme  « Le mur », da proposição de lei do deputado Fasquelle e, enfim, das recomendações da HAS. Sem tomar partido num debate que não dominam, seus responsáveis chocados pelo fato de que as coisas são tratadas sob a forma de um anátema, tinham desejado contribuir eficazmente, graças à intervenção de Jean-Daniel Matet no debate no interesse das pessoas autistas.
Jean-Daniel Matet apresentou alguns pontos do que faz hoje o debate e o que está em jogo no caso a partir de uma leitura histórica, clínica e ética do cuidado aos sujeitos autistas. Ele lembrou  que a psicanálise não se limita ao que se passa no consultório dos psicanalistas. Muitos psicanalistas trabalham nas instituições que acolhem  crianças ou adultos autistas como psicólogos, educadores, psiquiatras – particularmente depois da segunda metade do século XXI. Essas instituições nasceram sob a pressão do meio associativo, geralmente dos pais dessas crianças por longo tempo deixadas por conta da psiquiatria pública. As instituições que nasceram  da intervenção das associações o foram sob o registro da educação especializada para pessoas deficientes, particularmente desde a lei de 1975. É sem dúvida aqui, explicou Jean-Daniel Matet, que se pode achar « a origem da tensão permanente entre o cuidado e a educação que toma em certas épocas ares de guerra. » Então mesmo que a aliança entre o cuidado e a educação como prevê a lei de 1975 funciona, o melhor disso pode ser esperado para as crianças e suas famílias.  A psicanálise na interface psiquiátrica e médico-social, tem um lugar importante para o que a descoberta de Freud permitiu para o desenvolvimento psíquico e libidinal da criança. Uma concepção da criança como sujeito à parte inteira  que permite aos psicanalistas hipóteses de trabalho, como podem testemunhar os trabalhos de Anna Freud e Mélanie Klein.

Jean-Daniel Matet insistiu sobre a importância da história das ideias e dos saberes nesse campo « na hora onde a aliança do capitalismo e da ciência faz promessas sobre o futuro humano fazendo o impasse sobre a subjetividade, sobre o estatuto do íntimo na história de cada um. » Isto sendo particularmente verdadeiro para o autismo. Ele lembrou a história dessa categoria clínica. Ele precisou a que ponto o apelo de certas associações por  « uma normalidade autista » que se oporia à loucura das outras é pouco eficaz e problemática. Como o é a tentação de creditar a idéia de uma causa confessa do autismo pela ciência médica. Ciência que pensa poder tudo explicar sem resto pela criptografia dos nossos genes e das moléculas que fazem nossos organismos.  « O que a psicanálise sustenta é que há um irredutível ligado à sexualidade e ao inconsciente, um buraco no simbólico, dizia Lacan, ao qual cada humano a partir de sua relação com a linguagem tem a ver. É o que pode se resumir em termos de causalidade psíquica.  É isso que uma cura psicanalítica explora para identificar a solução que cada um encontrou para fazer face a esse buraco que faz com que não se possa dizer tudo ». O que Lacan depois de Freud chamou de sintoma : o que diz a verdade do sujeito sobre a vertente simbólica mas o diz também no real lado gozo. A psicanálise está, por esse fato, do lado do não conformismo, ela perturba e cai, numa sociedade de ordem, do mesmo lado que o autismo como aquilo que deve ser recolocado no caminho. É na pesquisa de uma via acessível a cada um que convém dirigir-se e não à promoção de um método que valha para todos e cuja consequência, a experiência o mostra, é o retorno de uma série de sintomas que testemunham um « não para todos ». 

Como Jean-Daniel Matet expôs e soube transmitir na sua conferência « na experiência da cura o sujeito procura uma solução viável para o exercício de seu direito ao gozo. É esta experiência que os psicanalistas podem transmitir a outras disciplinas, outros discursos, para tentar tornar flexível as categorias comuns, tornar próprio acolher os impasses do gozo que se manifestam numa dimensão totalmente inédita nesse século XXI. »
O debate se seguiu engajado, inicialmente com o testemunho de Mireille Batu sobre a dificuldade do caminho dos pais de crianças autistas para obter respostas e apoio. Que esse apoio, ela o tinha obtido dos psicanalistas. Se, como expunha Jean-Daniel Matet, alguns pais engajados nas associações que defendem o método ABA tendem em suas acusações feitas aos analistas a projetar a culpa no campo do Outro sob uma forma odiosa, ela tinha podido avaliar que culpabilidade e responsabilidade estavam no centro da vida dos pais. Yasmine Grasser insistiu sobre o que está em jogo em termos de uma escolha de sociedade que propõe DSM e método cognitivista endossados pelo discurso do capitalismo e da ciência. Estela Solano insistiu sobre a importânica da transmissão da experiência pelos psicanaistas do que cada um desses sujeitos nos ensina. Uma educadora enfim interveio, a partir de sua experiência, sobre a importância da « bricolagem» no sentido de invenção desses sujeitos e daqueles que os acompanham para que a relação se instale e os progressos se façam para cada pessoa acolhida aqui onde os métodos cognitivistas dão a ilusão de um modo de emprego pelo qual os pais seriam atores da relação com seus filhos.  Alain Obadia reafirmou, na qualidade de responsável político, como um princípio intangível que não cabia ao estado, aos deputados e senadores, determinar o que são os bons métodos para acompanhar e fazer progredir as pessoas autistas.  Na medida em que o saber deles era aquele sobre o conjunto dos cidadãos, não mais, e também aquele das instâncias que são a sede de lobbying. Que há nesse combate maniqueísta contra a psicanálise uma cortina de fumaça para não tratar as questões importantes dos lugares que faltam nas instituições, da maneira como as associações devem lutar para obter meios decentes de funcionamento, enfim dos prazos muito importantes antes que a MDPH acuse recebimento das demandas que lhe são endereçadas. Se a fundação Gabriel Péri não tem vocação para se fazer a porta bandeira da psicanálise, seu papel é o de fazer de sorte que o debate se faça sobre as melhores bases possíveis. Depois, é a partir da experiência e do saber que ele tem como pai de um jovem autista de 33 anos e como presidente de uma associação de pais que gerencia 10 estabelecimentos dos quais a metade recebe principalmente pessoas autistas, que ele falou como « observador-ator ». « Como sair por cima do confronto tal como ele se estruturou nesses últimos meses em acusações sobre a psicanálise e sobre a idéia de que haveriam métodos eficazes que seriam os únicos a terem o direito de serem citados ? » Depois, ele marca que é muito importante para os psicanalistas saber fazerem-se compreender e sublinha alguns pontos fortes que se destacam da exposição de Jean-Daniel Matet:

A pluralidade das abordagens : o laço indispensável entre educativo e cuidador. Ele insiste sobre o fato de que é a experiência cotidiana dos estabelecimentos.
A desconfiança que é importante levantar sobre os métodos de varinhas mágicas. Ele lembra que, após o método Teach, recomeçou-se com o método ABA. « É essencial porque é a oposição de cada um ao todos e vocês são os portadores da idéia de cada um ».  Ele sublinhou especialmente a importância para a associação de que é o presidente de que o apoio seja adaptado a cada pessoa em sua singularidade irredutível.
 A idéia da negação do subjetivo. As pessoas, nos disse, são consideradas como o neurobiológico, « o que faz com que sejamos  « corpos e cérebros» como nos sugeria à RATP [onde Alain Obadia trabalhava], um cognitivista que tinha vindo fazer um seminário sobre como essas ciências poderiam trazer alguma coisa para a comunicação com os usuários ».
Depois ele concluiu : « o que vocês dizem é mais complicado que o que dizem os cognitivistas mas a realidade é mais complexa que o que eles nos apresentam. Alguns argumentos que valem para cada um e para todos. ».
Conservarei desse debate a qualidade e a simplicidade da transmissão de Jean-Daniel Matet tanto em sua análise da história das instituições, das ideias e dos saberes sobre a clínica com os autistas quanto no que ele transmitiu da prática psicanalítica : a invenção singular e a transmissão de cada um segundo seu estilo que abre à troca e permite o encontro.

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