domingo, 26 de maio de 2013

ANGÚSTIA, MEDO E REAL NA CLINICA COM CRIANÇAS


PALESTRA: ANGÚSTIA, MEDO E REAL NA CLINICA COM CRIANÇAS
DATA: 07.06.2013
HORÁRIO: 19H
LOCAL: Auditório Noé Mendes – CCHL / UFPI
Atividade isenta

MINISTRANTE: CRISTINA VIDIGAL, psicanalista, Membro da Associação Mundial de Psicanálise – AMP e Membro da Escola Brasileira de Psicanálise – EBP/seção MG

CURSO: CLÍNICA COM CRIANÇA E ADOLESCENTE
DATA: 08/06/2013
HORÁRIO: 8h às 12h – 15h às 18h
LOCAL: Av. Dom Severino, 1024 –
Edf. Afrânio Nunes – sala 06 – Fátima
Inscrições: cepp-teresina.blogspot.com
Membros e Aderentes: R$150,00
Estudante de Graduação: R$100,00
Profissional: R$120,00
Vagas Limitadas                                                                

FORMAS DE PAGAMENTOS: depósito bancário direto no caixa 

Banco do Brasil
Agência: 4708-2      Conta Corrente: 7.671-6
Em nome de: Maria Lídia M. Noronha Pessoa

ATENÇÃO:
Enviar ficha de inscrição junto com fotocópia do comprovante de depósito para o e-mail: cepp.teresina@gmail.com
Nos casos em que seja necessária comprovação formal dos alunos de graduação, a inscrição só será confirmada após o envio da comprovação da graduação junto com a ficha de inscrição;
Serão aceitas somente inscrições com depósito bancário direto no caixa e concluída com o envio para o e-mail do CEPP, constando ficha de inscrição e comprovante de pagamento.

 FICHA DE INSCRIÇÃO: 
CURSO: CLÍNICA COM CRIANÇA E ADOLESCENTE
Nome completo: _____________________________________
Endereço:__________________________________________
CEP: _______________Cidade: _______________UF_____ 
Telefones:_______________celular:__________________ 
E-mail:___________________________________________ 
Profissão:_______________________________________
Categoria:
( ) Membros e Aderentes 
( ) Aluno da Graduação
( ) Profissional



sábado, 11 de maio de 2013

Jacques Lacan O Seminário 6 O desejo e sua interpretação



O que nos mostra Lacan? Que o desejo não é uma função biológica; que não está articulado a um objeto natural; que seu objeto é fantasístico. Por isso, o desejo é extravagante. Ele é fugidio a quem se propõe a assenhoreá-lo. Ele os engana. Mas também, se não é reconhecido, fabrica o sintoma. Em uma análise, trata-se de interpretar, quer dizer ler no sintoma a mensagem de desejo que ele contém.
Se o desejo desbarata, em contrapartida, ele suscita a invenção de artifícios que fazem o papel de bússola. Uma espécie animal tem sua bússola natural, que é única. Na espécie humana, as bússolas são múltiplas, são montagens significantes, discursos. Dizem o que é preciso fazer: como pensar, como gozar, como se reproduzir. Porém a fantasia de cada um permanece irredutível aos ideais coletivos.
Até uma época recente, nossas bússolas, diversas como são entre si, indicavam um mesmo norte: o Pai. Acreditava-se em um patriarcado antropológico e invariante. Seu declínio foi acelerado com a igualdade de condições, a ascensão do poder do capitalismo, o domínio da tecnologia.
Estamos na fase de saída da era do Pai.
Outro discurso está em vias de suplantar o anterior. A inovação no lugar da tradição. Mais do que a hierarquia, a rede. O atrativo do advir substitui o peso do passado. O feminino sobrepõe o viril. Ali onde tínhamos uma ordem imutável, os fluxos transformacionais franqueiam incessantemente os limites.
Freud é da era do Pai. Ele trabalhou muito para salvá-lo. A Igreja acabou se dando conta. Lacan seguiu a via aberta por Freud, mas ela o levou a formalizar que o Pai é um sintoma. Ele o mostra aqui a partir do exemplo de Hamlet.
O que se guardou de Lacan – a formalização do Édipo, o foco colocado no Nome-do-Pai – foi somente seu ponto de partida. O Seminário 6 já o reformula: o Édipo não é mais a única solução do desejo, é apenas sua forma padronizada; esta aqui é patogênica, não esgota o destino do desejo. De onde vem o elogio da perversão que termina o volume. Lacan lhe confere o valor de uma rebelião contra as identificações que garantem a manutenção da rotina social.
Este Seminário anuncia “os rearranjos dos conformismos anteriormente instaurados, até sua ruptura”. Nós estamos nisso. Lacan fala de nós.
Jacques-Allain Miller

Campo Freudiano
Coleção fundada por Jacques Lacan

Capa: Alegoria com Vênus e Cupido, Bronzino (v.1545), óleo sobre madeira.
            Londres, National Gallery. ÓGetty Images.

domingo, 5 de maio de 2013

NÃO AGUENTAMOS MAIS O PAI


Jacques-Alain Miller lê
 Une semaine de vacances

Fragmentos selecionados e estabelecidos por Christiane Alberti da intervenção de J.-A. Miller, no sábado, 20 de abril, por ocasião das conversações, leituras e projeções animadas por Christine Angot no Teatro Sorano de Toulouse, de 18 a 21 abril  de 2013. O evento foi filmado e será retransmitido pela La Règle du jeu.

      «Une semaine de vacances1 mostra que não aguentamos mais o pai. Li como um apólogo para os dias atuais, um apólogo de nosso ‘saco cheio’ do pai. Ele nos fez entender porque é preciso sair do reinado do pai. O pai, esta ferida, teve seu tempo e hoje é obsoleto. O pai incestuoso é um personagem bem conhecido da literatura, no entanto, aqui se trata de outra coisa: é o romance do pai enquanto impossível de suportar. A este respeito, ele é real, um efeito de sentido paradoxalmente real. «Ela» (pois neste romance os protagonistas são designados somente pelos pronomes ele e ela) gravita em torno deste real, ela é totalmente voltada para ele. O girassol é heliotrópico, ela é mostrada como paternotrope, até chegar à eclipse do pai ao final do romance. É o romance do que Lacan chamou de a père-version, o tropismo ao pai .
            Como se libertar do pai? É possível livrar-se dele? Esta é a questão constante de Lacan. Seu ponto de partida foi o Nome-do-pai, colocado como função, do Seminário III ao Seminário IV,  para dar conta das psicoses, neuroses e perversões, mas não do que seria normal. Desde o Seminário VI, percebe-se que o conceito de desejo desloca as linhas do Édipo. Este Seminário que data de meio século – O desejo e sua interpretação2, é contemporâneo de Une semaine de vacances.
            O desejo tem não nada a ver com instinto, guia da vida infalível, que vai direto ao ponto, que conduz o sujeito em direção ao objeto de sua necessidade, que convém à sua vida e à preservação de sua espécie. Mesmo se este busca seu parceiro em sua realidade comum, o objeto de desejo se situa na fantasia de cada um. O Seminário busca explicitar a dimensão do fantasia: neste nível, há, entre o sujeito e o objeto um ou bem, ou bem. No nível do que se considera conhecimento, os dois, sujeito e objeto são adaptados um ao outro, há cooptação, coincidência, até mesmo fusão intuitiva dos dois. Na fantasia, por outro lado, não há este acordo, mas uma falha específica do sujeito diante do objeto de sua fascinação – um certo perder o fôlego. Lacan fala de fading do sujeito, do momento em que este não pode se nomear. Isto é representado no romance pelo fato de que as pessoas não são nomeadas, ficam anônimas, e as qualidades do pai e da filha são expressas de forma furtiva. Há somente a famosa «diferença sexual».
            Há, no Seminário, uma frase que diz: «O pudor  é a forma nobre do que se apresenta, no sintoma, como vergonha e nojo», compreendamos que o pudor é a barreira que nos impede quando estamos a caminho do real. Une semaine de vacances vai além da barreira do pudor e avança na zona onde habitualmente opera o sintoma através da vergonha e do nojo.
            Aí, encontramos um pai, o Ele do romance, que odeia o desejo: ele se ocupa do gozo. Na medida em que provoca seu eclipse ao final: Ela lhe conta um sonho, é uma mensagem de desejo a ser decifrada, e imediatamente, seu humor muda: Ele fica indignado, chateado, furioso. Ele se vai, fica amuado. O desejo, sob a forma do sonho, vem estragar a fixidez de seu gozo. Fixidez que suporta a repetição, que Camille Laurens explora seus poderes alhures. Aqui, o gozo retorna como um cântico insistente. A clivagem entre desejo e gozo se torna palpável, sendo o gozo uma bússola infalível, diferentemente do desejo.
            O pai manifesta sua vontade de transmitir um ideal, ele brinca de supereu. Os limites do pudor são franqueados e, ao mesmo tempo, restituídos de forma derrisória no nível do vocabulário – o pai cumpre a função de tudo bem dizer, fazendo disto a perversão.
            Estamos nos tempos de sair da era do pai. Se há um livro que me tenha dado esta sensação de forma mais viva, este é Une semaine de vacances. É emblemático do que estamos vivendo.
            Freud salvou o pai, enquanto que, segundo Lacan, o pai é para ser interpretado em termos da perversão. Vemos, no Seminário VI, que o Édipo não é a única solução do desejo: esta é a sua forma padronizada, e sua prisão. O Édipo é patogênico.
            Une semaine de vacances reatualiza este avanço do Seminário de Lacan. O desejo de Ela se emancipa graças ao mutismo e à raiva do pai. Ao final do romance, ela se encontra numa estação onde o único elemento familiar, heimlich, é sua mala. O texto se encerra com estas frases: «Ela o olha. E ela lhe fala». A mala substitui o pai, como objeto pequeno a. É aí onde agora está seu endereço, aí onde se aloja o sujeito suposto saber. Será sua mala que lhe interpretará seu sonho.

1Angot Ch., Une semaine de vacances, Flammarion, 2012.
2Lacan J., Le Séminaire, livre VI, Le désir et son interprétation, texte établi par Miller J.-A., La Martinière & Le Champ freudien, à paraître en juin 2013.


Os traumas na cura analítica – Bons e maus encontros com o real


Há uma teoria espontânea do trauma. O que não podia acontecer, aconteceu. Impensável! Inimaginável! Insuportável! Demais.

“Perco o controle” – Diante do impossível realizado o sujeito está perdido, não é mais o que ele era, nem para si nem para os outros. Nenhuma resposta vale. O sintoma explode.

A medicina, apoiada na ciência moderna, busca então uma solução – a pílula do dia seguinte, a preparação antecipada, a verbalização imediata. É a resposta pelo apagamento da memória – que tudo possa voltar a ser o que era antes e que os homens voltem a se ocupar dos seus afazeres tal como o imperativo do laço social exige. Não aconteceu porque não deveria ter acontecido. A questão surge: como viver depois do trauma sem o trauma?  Não se tira nenhuma lição do trauma.

Como o trauma faz parte da existência e não pode ser eliminado, a psicanálise opta por uma estratégia diferente, mais pragmática. Nenhuma alteração da memória, nenhum apagamento, nenhuma contra programação, nenhuma catarse, poderão eliminar o real. Mesmo supondo que tais soluções sejam possíveis, os danos colaterais seriam grandes demais e inaceitáveis do ponto do visto ético.

Então, o que propõe a psicanalise?  Ela considera que o trauma aconteceu, que ele modificou o sujeito e que ele se apresenta como avesso de um ato. E por isso que ela escolhe tirar do trauma um ensinamento. Desde a sua origem, a psicanálise, os analistas, Freud antes de todos, tiveram que reconhecer uma evidencia clínica: a realidade psíquica não coincide de modo algum com a realidade objetiva, seja ela fatual ou do discurso.

Mais ainda, a noção de trauma exige uma nova definição do fato e do evento que seja congruente com o sujeito do inconsciente. Lembremo-nos do celebre exemplo citado na Interpretação dos Sonhos revisto por Lacan.

Um pai perdeu seu filho, perda cruel, trauma no sentido comum. Exausto, ele pediu a uma pessoa familiar que se ocupasse de velar alguns instantes o corpo do filho amado. Mas, por sua vez, esse homem adormeceu ao lado da criança que, ela, dormia o seu sono derradeiro. De repente, um barulho: o fogo começou a queimar o corpo do filho amado. Esta é a realidade. Como é que o inconsciente responde? Por um pesadelo. A criança se aproxima e murmura “Pai, não vês que estou queimando?”. Onde está o trauma? A impossível voz do morto, eis o que verdadeiramente desperta o pai.

Uma imagem indelével, a erupção de um terror, a exacerbação de uma emoção, uma palavra eternamente inarticulável, são múltiplas as referencias às feridas que não se apagam, “perdas imaginarias no ponto mais cruel do objeto”. A expressão é de Lacan que celebra, na perda, a relação do trauma aos objetos, deixando o sujeito desnorteado, em um mundo que perdeu o sentido.

Aqui inicia-se o tratamento, no intervalo da fratura do sujeito, da perfuração da sua realidade. Sobre estes pontos de fixação, a maquina de produzir sentido se precipita e se esgota, confrontada ao que cegamente, o inconsciente real, não cessa de repetir.

Todo mundo delira, isto é, dá seu próprio sentido, porque todo mundo é traumatizado. Mas o delírio não liberta do trauma. Quando isso se repete, em quais condições um eu pode advir?

À universalização do delírio dos Uns-sozinhos, responde a generalização do trauma. O mal estar correlacionado ao sintoma cedeu seu lugar ao trauma relacionado à rejeição da marca, na medida em que o simbólico perde seu poder diante do real. A utopia dominante não é mais o recurso ao pai, mas ao risco zero com a docilidade geral que ele implica. Porém, não se leva ai em conta essa “coisa obscura” que está em nós. Cabe à psicanálise atribuir-lhe seu justo lugar, sempre singular, sempre contingente.

Christiane Alberti, Marie-Hélène Brousse